Divagações sobre o tempo

Por Nonato Furtado

            Pronto! Acabou a Copa do mundo. Espanha campeã. Felicidade total em Madrid. O Polvo Paul acertou todas, já não posso dizer o mesmo sobre o papagaio. “Já pensou se a seleção brasileira tivesse sido campeã?” Ouvi até alguns se questionando por aqui.

As Copas do mundo sempre foram um marcador temporal para mim. Quando pivete, gostava de perguntar aos meus amigos assim: “O que nós estaremos fazendo daqui a cinco, dez anos?”.  Confesso que não era o tipo de brincadeira favorita deles. Sei que é uma nóia um pivete ter esse tipo de pergunta, mas eu tinha. Lembro muito bem das últimas: 1994, 1998, 2002 e 2006. A de 1994 foi muito marcante, pois me lembro dos fogos e da correria da molecada na minha rua e eu freneticamente no embalo. Estava em Pentecoste e lembro que houve até trio elétrico na avenida principal, Brasil Tetra Campeão.  

O tempo sempre me fascinou. Não é a toa que adorava/adoro o filme De Volta para o Futuro. A amizade do Dr. Emmett Brown com Marty McFly. O doutor e sua invenção: a máquina do tempo. Era preciso acelerar o De Lorean (o carro) até 140 km/h que, consequentemente, fazia ativar o capacitor de fluxos, que usava plutônio para produzir uma energia elétrica para transportar o veículo para a data programada (passado ou futuro). Sensacional! Confesso: eu já quis ser o Marty. Sua vida estudantil, sua rebeldia e, principalmente, seu amor por Jennifer Parker. Era tudo incrível!

O mais incrível no filme era o encontro dos personagens com eles mesmos, tanto no passado como no futuro. Aliás, eles não poderiam entrar em contato consigo mesmo nem no passado, nem no futuro, “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço”. Era essa a justificativa do doutor. Qualquer ação influenciaria diretamente uma cadeia de outras ações, inclusive poderia ocasionar em catástrofes como o não nascimento de um deles no futuro. No filme, fica bem claro que simples atitudes podem desencadear uma sequência de outras que consequentemente alterariam o futuro.

Pois é, estamos em 2010 e hoje acabou oficialmente a Copa. Digo oficialmente, porque para muitos brasileiros e torcedores de outras nações, ela já tinha acabado há algum tempo. Mas, é justamente sobre esse marcador temporal que lanço meus questionamentos. Estamos em um período eleitoral para a escolha de deputados (federal e estadual), senadores, governador e presidente. Temos um cenário bem atípico no Ceará por inúmeras questões que fogem a esse texto. Pergunto: E daqui a quatro anos? Como estará a política cearense? Nos municípios?

Estendo esses questionamentos para o lado pessoal: Como estávamos na Copa passada? Como estaremos nós daqui a quatro anos?  Mais gordos ou mais magros, felizes ou tristes, com dinheiro ou lisos? Creio que polvo nenhum poderia nos dar uma resposta confiável, sabe por quê? Porque a vida é uma construção e, a construímos a cada ação ou inércia, cada suspiro, cada olhar, cada pensamento. Por isso, não acredito em videntes e coisas do gênero.  

Então, na contabilidade das coisas o que poderemos dizer sobre o nosso futuro.  Confesso que não tenho (nem quero ter) respostas para essa pergunta. O tempo é escorregadio, efêmero, forte, e nos consome lentamente e não o contrário. Somos tangidos ao som dessa música estranha, entre lágrimas e sorrisos, entre perdas e ganhos, entre a felicidade de fazer novos amigos e a tristeza embrulhada no estômago por perdemos tantos outros pelo caminho, o calor do afago e a saudade, as multidões e a solidão, os e-mails diários e a poeira que recobre velhos envelopes com fotografias roídas pelas traças. Assim é a vida. Passado e futuro, tese e antítese. O presente, síntese em processo. Amanhã é segunda e é tempo de voltar à vida real. Pronto! Acabou mais uma Copa do mundo.  

Dicas de filmes que, de alguma forma, discutem sobre o tempo: Efeito borboleta, A Casa do Lago, O curioso caso de Benjamim Button, O segredo dos seus olhos, O amor nos tempos de cólera, O Labirinto do Fauno, Diário de uma paixão, Déjà Vu, dentre outros.

Escrito em: 11/07/10.