Caroline Avendaño*
A adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como forma de seleção dos novos estudantes das universidades e institutos federais de educação representa uma ruptura histórica nas atuais estruturas de exclusão educacional em todo o país. Apesar de continuar com o seu caráter meritocrático, o novo ENEM traz como maior inovação a forma de abordagem dos conteúdos: interdisciplinar e de acordo com situações que exigem raciocínio lógico e interpretação.
Além de forçar uma reestruturação do atual currículo educacional do Ensino Médio, essa forma de ingresso repudia o modelo anterior: extremamente conteudística e “decoreba” que, além de ser ineficaz, pois não produzia um aprendizado real, trazia catastróficas conseqüências para os estudantes de escola pública, visto que a maior parte dos professores em exercício não possuem formação específica no ensino das ciências exatas, resultando numa enorme deficiência dos estudantes nesta área.
Em relação à reestruturação forçada do currículo, as escolas terão que acabar de vez com o difamado analfabetismo funcional. Tendo o raciocínio lógico e a interpretação de textos como premissa básica para resolução das questões abordadas, o ensino do português e da matemática terão um peso muito maior no currículo educacional. Ou seja, agora a escola terá que construir novas estratégias e currículos que valorizem a abordagem de problemas cotidianos do estudante, estimulando um ensino mais conectado com conhecimentos, saberes, competências e habilidades importantes para o desenvolvido social dos jovens num sentido global, e não apenas reconhecendo-os como depósitos de conhecimento elaborado, segundo o modelo de educação bancária.
A maior crítica à adoção do novo ENEM é a abertura das vagas das universidades locais para concorrentes de todo o país. O estudante, neste novo modelo de vestibular unificado, poderá se inscrever em cinco opções de universidades e cursos em qualquer lugar do país, a partir da sua nota. Esta situação configuraria uma desvantagem para estudantes de classes populares em cursos mais concorridos, pois estes seriam ocupados por concorrentes de outros estados melhor pontuados e com condições financeiras de transferir sua residência para outro estado. Não podemos esquecer, porém, que este mesmo direito está legado à todos, inclusive aos estudantes de escola pública.
A partir do REUNI, grande parte das universidades federais aperfeiçoaram seus programas de assistência estudantil por meio da construção ou ampliação de residências e restaurantes universitários e algumas chegaram até mesmo a triplicar a oferta de bolsas para estudantes de origem popular. Ou seja, a oportunidade de estudar em um outro estado não é só privilégio dos ricos. Além de proporcionar um enorme aprendizado no desenvolvimento do jovem, morar fora da casa dos pais desenvolve a independência, responsabilidade e autonomia. Claro que não é fácil, mas é mais uma oportunidade que antes não existia para estes. Que o diga os mais de 250 estudantes da UFC que moram em residências universitárias. Provavelmente, com a generalização do intercâmbio nacional de estudantes, novos programa de atendimento específicos à este público serão criados.
A perspectiva é que, nesta fase de transição de métodos seletivos, o ENEM seja realizado duas vezes ao ano, mas tendo como meta a realização de até sete vezes, diminuindo consideravelmente o desgaste emocional do jovem, ao colocar todas as suas esperanças na pontuação de um exame único anual. Com a nova perspectiva que se abre para todos os estudantes do país, com mais vagas e qualificação das formas de acesso não há como negar que esta mudança representa um avanço da educação do país.
* Estudante de Jornalismo/UFC
Coordenadora de Comunicação do PRECE
* Estudante de Jornalismo/UFC
Coordenadora de Comunicação do PRECE
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