Personalidades brasileiras de sucesso revelam as ideias que nortearam sua vida.
O estudo traz uma releitura da vida - Marina Silva, 51 anos, acreana, senadora
"Dos 5 aos 14 anos, morei com minha avó Julia, em Mecejana, no Ceará. Eu morava numa casinha de palha, a 10 quilômetros da casa do meu pai. Ficava numa capoeira. Minha avó era uma pessoa muito inteligente, capaz de decorar um livro inteiro de cordel apenas de ouvir a história umas duas vezes. Como ela não sabia ler, meu pai lia para ela, e ela me contava as histórias. Ou as cantava em forma de cantoria, como os repentistas. Foi com ela que aprendi os rudimentos do cristianismo. Ela tinha um catecismo feito de papel-cuchê, com umas ilustrações belíssimas da Capela Sistina, que mostrava desde a Criação até o Apocalipse, o fim do mundo. O livro não tinha escrita, só ilustração. Era feito para analfabetos. Minha avó dizia que no Ceará havia padres, freiras e tudo isso. No meu imaginário de criança, ao ouvir tudo isso, eu comecei a dizer que, quando eu crescesse, seria freira. Todas as vezes que eu dizia isso, ela me aconselhava a estudar. Dizia que freira não podia ser analfabeta. E cresci com esse conselho. Quando fiquei doente, resolvi cuidar da minha saúde e ser freira. Fui para um convento, onde fiquei dois anos e oito meses. Foi assim que comecei a estudar. Para ser freira, eu tinha de aprender a ler. Eu tinha 16 anos e meio quando fui para Rio Branco para ser freira. E continuo tentando me curar do analfabetismo até hoje. Analfabeto é também quem não consegue fazer uma leitura em relação aos tempos que está vivendo, quem não consegue ler os valores que se quer reforçar ou outros que a gente precisa mudar. Enfim, a alfabetização é um processo contínuo; é dar outra significação à vida."
Somos todos seres iguais - Juliana Paes, 30 anos, fluminense, atriz
"Certa vez, eu estava melindrada por ter de conversar com o reitor da universidade onde estudava. Eu tinha 19 anos, e meu pai me disse: ‘Nunca tenha medo ou timidez ao falar com quem quer que seja. Lembre-se sempre de que somos todos homens mortais, iguais, acima de qualquer cargo, profissão e status. Mesmo se estiver diante da maior autoridade que você reconheça, encare-a de igual para igual. Nem de cabeça baixa, pois não deve ter vergonha, nem de nariz em pé, pois tem de manter a humildade. Encare-a de frente, como iguais que são’. Essas palavras me acompanham sempre, são como um eco do meu pai em mim. Sempre fui muito respeitosa, quase tímida quando mais menina, e sempre tive medo de dizer não, de desagradar. Uma terapeuta me disse uma vez que eu sou uma pessoa que gosta de agradar. É verdade. Mas o conselho do meu pai me ajuda até hoje a não ter medo de me colocar, de questionar. Ele me fez ser mais forte e confiante."
Só você pode se derrotar - Dilma Rousseff, 61 anos, mineira, ministra-chefe da Casa Civil
"Na época da ditadura, eu estava presa no Dops, em São Paulo. Como as celas estavam lotadas de presos políticos e havia menos mulheres do que homens, botavam a gente nas solitárias. Então, fui parar em uma solitária. Estávamos eu e uma jovem de 21 anos chamada Leslie Denise, a Lelé. Um dia bateram na nossa porta com uma caneca. Pela janelinha, vimos um velhinho de olhos azuis. Com bandagens nos pulsos, ele disse assim: ‘Oi, meu nome é Jacob Gorender. Como é que vocês se chamam?’. Entre os presos havia dois estrangeiros do Al Fatah (facção palestina). Um deles nos contou que o velhinho era o doutor Jacob Gorender. Fizeram barbaridades com ele e passamos a cuidar dele. Lavávamos sua roupa, amassávamos abacate, botávamos açúcar, limãozinho. Ficamos amicíssimas dele. A gente o achava velho, mas ele tinha 47 anos. Um dia, ele me deu um conselho: ‘Só tem uma coisa que você não pode fazer’, disse para mim e para Lelé. ‘Vocês não podem achar antecipadamente que eles (do Dops) sabem tudo, porque, se você achar que eles sabem tudo, que entendem tudo e são tão poderosos, vocês já se derrotaram’. Então, na vida, você não pode achar nunca que as pessoas sabem tudo ou são tudo. Se você não for capaz de entender o que a outra pessoa quer de ti, como é que ela te atinge, se você não for capaz de fazer isso, você já perdeu. E a frase dele era a seguinte: ‘Cuidado. Só você pode se derrotar’."
Mostre suas glórias com simplicidade e humildade - Lars Grael, 45 anos, velejador, campeão olímpico
"Estava à beira-mar, numa praia de Varberg, na Suécia, aguardando o início de uma regata. Era final de manhã e ventava muito. Eu tinha 20 anos e acabara de participar da minha primeira Olimpíada (Los Angeles, em 1984). O dinamarquês Paul Elvström, o velejador mais importante de todos os tempos, tinha então 57 anos. Sua simplicidade – apesar das quatro medalhas de ouro olímpicas e dos 13 títulos mundiais – chamou minha atenção e eu resolvi lhe fazer um elogio. Paul respondeu que o mais importante na vida de um campeão não deve ser ostentar seus grandes resultados. E que as glórias de um vencedor podem ser mostradas com simplicidade e humildade. Hoje, Paul está com mais de 80 anos e ainda mantemos contato. Provavelmente, ele não sabe quanto esse conselho foi importante na minha vida. E procuro passá-lo adiante. Faço palestras por todo o Brasil e, quando alguém me trata como celebridade, tento mostrar que estamos no mesmo patamar e que a simplicidade é um valor fundamental na vida de qualquer ser humano. Isso não deve se aplicar apenas aos campeões no esporte. Mas também àquelas pessoas que se destacam, seja na política, na economia ou em qualquer outra área."

"Era 1964. Eu tinha 30 anos e estava fazendo pós-graduação nos Estados Unidos. No Brasil, o golpe militar trouxe um clima em que qualquer coisa era subversão. Não era preciso fazer nada para ir preso. Muitos amigos meus foram assassinados. Eu escrevia artigos falando de liberdade, nada explícito contra o regime, mas é claro que eu era contra ele. E assim ganhei inimigos. Eu tinha sido pastor. Pessoas que não gostavam de mim dentro da igreja começaram a me fazer acusações. Nada era claro. Nunca sabemos direito como são as coisas. Chegavam mensagens do tipo ‘consta que existe um documento contra você’ e tal. Eram ameaças. E, naquela época, até provar que focinho de porco não era tomada elétrica... Eu quis me defender. Publiquei artigos em revistas americanas para me explicar. Não houve repercussão. Foi então que meu professor de filosofia na universidade, muito sábio, me deu o melhor conselho que já me deram na vida. Ele me disse: ‘Rubem, nunca se explique. Para seus amigos, não é preciso se explicar. Para seus inimigos, é inútil se explicar’. Eu tentei seguir o conselho. Sempre tento, mas muitas vezes eu desobedeço. Ninguém segue conselho, né?"
E você, qual o melhor conselho que já recebeu? Compartilhe conosco.
Fonte: Revista Época
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