quinta-feira, 4 de março de 2010

1

[ Nosso Povo, Nossa História ] Quem foi Aderlou Pinheiro?

Por Arneide Andrade*

“Falece, em Fortaleza, o comerciante Aderlou Pinheiro, de Pentecoste, atacado a tiros por seus adversários políticos, ficando ferido gravemente o Sr. Moisés Pedro.”

Esta foi a manchete do Portal da História do Ceará no dia 28 de maio de 1959. Está cravada no imaginário dos cidadãos pentecostenses e na história política da cidade, a existência marcante e especialmente trágica do Sr. Aderlou Pinheiro.

No dia 04 de março de 1965, seis anos após a sua morte, finalmente o executor do crime foi julgado e condenado a 13 anos de reclusão. Muito se ouviu falar sobre o ocorrido e, apesar das divergências sobre alguns detalhes, todos sabem pelas vielas, feiras, pequenos comércios e bares de Pentecoste, quem foi o mandante do crime e qual a razão de tamanha brutalidade: desavenças políticas.

Como diz-se que “a história dos vencidos é escrita pelos vencedores”, este blog resolveu rememorar este fato importante na história da cidade por meio da ótica de um espectador comum, cidadão pentecostese, que viveu na época do fato em destaque. Eis aqui o seu relato:

“Conheci o Sr. José Aderlou Pinheiro, ’Seu’ Aderlou como era chamado, em 1944. Nessa época, eu tinha 10 anos de idade. Ele era procedente do Riacho do Sangue, extrema do Ceará com Rio Grande do Norte. Era um homem simples, batalhador, muito honesto e que chegou pobre no município de Pentecoste. Era comerciante ambulante de pele de animais e por muitas vezes, eu o vi, montado em uma burra e puxando outro animal carregado de pele que comprava por onde passava. ‘Seu’ Aderlou era um homem muito generoso, de muitas amizades. Era um homem do bem e muito querido pelos amigos. Era de boa aparência, fisionomia amigável, alto e de pele avermelhada. Ele era parente da família de Audísio Pinheiro, uma família abastada que morava em Fortaleza. Os seus parentes ricos lhe deram uma ajuda, e foi assim que ele começou a melhorar de vida, comprou um ônibus que passou a fazer a linha Serrota-Fortaleza. Em Pentecoste, comprou um terreno que mais adiante foi vendido para o DNOCS, onde hoje é o Posto Agrícola. Possuiu também um pequeno sítio-fazenda em uma localidade chamada “Saco Verde” que depois passou a se chamar Itaguaçu. Nesse sítio, eram cultivadas várias fruteiras como bananeiras, laranjeiras, coqueiros, tudo irrigado pelas águas do canal. Lá também existiu uma fábrica de doce de banana. Hoje, esse sítio corresponde à Fazenda Experimental de Agronomia da UFC. Todos que moraram na propriedade, tinham bastante apreço pelo Seu Aderlou e o consideravam um patrão excelente. Aderlou casou-se com uma filha de Pentecoste, de nome Antonia, filha de Antonio Cazado. Não tiveram filho natural, mas tiveram um adotivo. Sua vida política iniciou-se como chefe do partido UDN, era aliado político de Manuel Amanso Campelo que também era membro do Partido. Nessa época, só existiam dois partidos a UDN e o PSD; Apuiarés e General Sampaio era tudo Pentecoste. A família Paraíba, na pessoa de Gomes da Silva, popularmente chamado de Dr. Oliveira, representava o partido PSD. Na eleição de 1946, a UDN lançou José Firmo de Aguiar como candidato a Prefeito de Pentecoste. Ele ganhou e Aderlou foi seu cabo eleitoral e vice. O candidato do outro partido foi o Dr. Oliveira. Nessa época o governador era Paulo Sarasate. Na eleição de 1950, Aderlou candidatou-se pela UDN, porém, quem ganhou a eleição, foi Raimundo Augusto, candidato lançado por Dr. Oliveira, do PSD. Na eleição de 1958, Aderlou apoiou como candidato a prefeito de Pentecoste, Pedro Nunes, conhecido como Pedro Filó, pela UDN e o Dr. Oliveira lançou Quinca Mota pelo PSD. Quinca Mota ganhou a eleição, porém com pouco tempo renunciou por dinheiro, dizem, e quem assumiu a prefeitura foi Francisco Senhor Alves, vulgo “Sinhozinho”. Nesse período, devido a atritos políticos, numa reunião de coligação na Serrota, antes da eleição, houve muito tumulto entre os grupos políticos e o cabo eleitoral de Aderlou, Luís Augusto foi morto. O crime foi assumido por Jorge Guimarães, ex-amigo de Aderlou. Nessa época, existia muita pistolagem, mas Aderlou não era homem de pistolagem, apenas a partir do momento que passou a ser perseguido é que passou a andar com proteção. Em 1959, Jorge Guimarães, seu ex-amigo, o matou a mando dos seus adversários políticos.”

E, assim, com os olhos lacrimejantes e uma expressão de saudade no rosto, termina o relato do nosso espectador.

Você conhecia essa história? Ouviu uma versão diferente? Conte-nos ou dê a sua opinião sobre esse relato.

Agradecimentos especiais a Gláucia Andrade – Letras/UFC.

* Arneide Andrade é Pedagoga pela UFC e Relatora da Coordenadoria do Instituto Coração de Estudante.


Um comentário: